
Os índios e o Meio Ambiente
A língua tupi faz parte do imenso patrimônio cultural nacional, e sua importância se revela na imensa quantidade de palavras usadas diariamente por brasileiros que muitas vezes desconhecem a sua origem, e por vários costumes que herdamos dos silvícolas, como casas com telhado de sapé, descansar e dormir em redes, utensílios de palha e fibras vegetais, artefatos de cerâmica para uso e ornamento, a farinha de mandioca, brinquedos infantis como as bolas de borracha, o bodoque e arapucas para prender pássaros, o fumo, e outros.
Além das palavras usadas no dia a dia das pessoas, como cócoras, capim, caipira, capoeira, cuia, cupim, mingau, entocar, espiar, jururu, moqueca, xará, mocotó, mirim, jabá, tipóia, taquara, taioba, catapora, capenga, pipoca, bau-bau, paçoca, sapé, pirão, tetéia, tiririca, tocaia, peteca, toca, cutucar, o legado verbal indígena se transfere a outros aspectos da cultura, como topônimos de cidades, nomes de animais e árvores, e frequentemente, pelo seu significado, demonstram o arguto senso de observação de nossos primeiros cidadãos e sua intimidade com o mundo que envolve a todos.
Alfabeto tupi-guarani Índios tupi-guarani
Milhares de cidades e vilas pelo Brasil afora têm nomes derivados do tupi, ao norte, e do guarani, mais ao sul. Em geral, os nomes traduzem algum aspecto da região que, por algum motivo, chamou a atenção dos indígenas. Vários exemplos podem ser elencados, como é o caso de Pindorama, o primeiro nome do Brasil, nomeado assim por ser a “terra das palmeiras”. E também outros como Caratinga, cará branco, Curitiba, muitos pinheiros, Itaberaba, pedra brilhante (mica), Manhuaçu, grande chuva, Manhumirim, garoa ou neblina, Itamaraju, a pedra do pescoço, Uberaba, rio brilhante, Iguatama, lugar onde o rio faz curvas, Ibitipoca, serra fendida, Pacaembu, ribeirão das pacas.
Na região de Governador Valadares, encontramos Ipatinga, lagoa branca, Baguari, corruptela de maguari, garça grande, Ibituruna, nuvem negra, ou serra negra, dependendo do autor, Itambacuri, rio das conchas, Itapemirim, pequena laje, Itambé, pedra a pique, Ubaporanga, árvore bonita, provavelmente por conta do belo mulungu vermelho que ocorre naquela região, Suaçui, rio dos veados, Ipaba, lugar da água.
A força da herança tupi na nomenclatura da fauna e flora nacional
A herança tupi é forte na nomenclatura de animais brasileiros, e os nomes revelam características e hábitos evidentes das criaturas nomeadas, como capivara, a que come capim, tamanduá, o que tem rabo peludo, urubu, a ave preta, piranha, a que arranha a pele, mutum, o de cor preta, biguá, a ave de pé redondo, cutia, a que come como os homens, por causa do hábito deste roedor de comer com as patas dianteiras. Uauá é o vagalume, andirá é o morcego, e guanambi é o beija-flor. A lista é imensa, e traz o jacu, a saracura, o jaboti, o jacaré, o quati, a tatarana, a que queima como fogo, e tantos outros.
Vagalume (Uauá) Beija-flor (Guanambi) Pau-brasil (Ibirapitanga) Buritis
Árvores e frutas também demonstram a enorme influência tupi na formação de seus nomes, como o pau-brasil, ibirapitanga em tupi, árvore vermelha, o gerivá, fruto que dá em cachos, babaçu, árvore grande, buriti, palmeira da água, embaúba, a árvore oca, piaçava, a que tem pele trançada, a paxiúba, árvore ruim, por conta de suas raízes espinhentas acima do solo, bacaba, a de frutos gordurosos, muito usada para fazer vinho no norte do país. O patauá, corruptela de pacauá, palmeira do norte do país, é o fruto das pacas, a carnaúba é a planta que arranha a pele, por conta de suas folhas espinhosas, abacaxi é a fruta perfumada, o açaí é o que faz surgir água, o genipapo é a fruta de pintar, pela cor forte de seu sumo, e a samaúma, árvore imponente.
Como primeiros cidadãos brasileiros, os indígenas devem ser respeitados e incentivados a preservar sua cultura. O explorador francês Auguste de Saint-Hilaire resumiu o assunto em uma frase; “A civilização não foi feita para os índios, já que ela é totalmente fundada sobre a ideia do futuro, que lhes é totalmente estranha.” O famoso naturalista tem razão, pois vivendo numa floresta tropical rodeados por milhares de espécies de frutos, animais e peixes, sem terremotos, grandes predadores ou neve, para que se preocupar com o futuro?
E você, o que achou deste artigo? Curta e comente abaixo.