
A Maconha e Você
O historiador grego Heródoto, que viveu no século V a.C., conta em sua obra que os citas – antigo povo nômade que habitava o Irã de hoje – entravam em suas barracas e colocavam sementes de cânhamo sobre pedras quentes, que tostadas, soltavam uma fumaça que tomava conta do ambiente. Como resultado, os presentes gritavam e dançavam de alegria. Desde sua primeira referência histórica feita pelo imperador chinês Shen Nung, em 2.700 a.C, passando pelo faraó Ramesseum II, no antigo Egito, há 1700 anos, a maconha ou sua forma têxtil cânhamo tem lugar assegurado na farmacopeia popular e na indústria de tecidos. O mesmo Heródoto contava que os trácios – antigo povo indo-europeu, habitantes da Trácia e regiões adjacentes – confeccionavam com o cânhamo roupas que pareciam feitas de linho. Hoje sabe-se que a fibra do cânhamo é 5 vezes mais resistente que a do algodão, propriedade esta que faz com que a planta seja excelente matéria prima para a fabricação de papel, além de mais produtiva, pois 1 hectare dela produz celulose equivalente a 4 hectares de eucalipto.
Sementes de cânhamo Tecidos do cânhamo
Voltando à História, reza a tradição que proibidos pelos ingleses de importar papel, os colonos americanos durante a guerra da independência plantavam cânhamo para suprir suas necessidades, e acredita-se que um dos produtores seria Benjamim Franklin. Também contam os historiadores que a primeira bandeira americana foi impressa em cânhamo, bem como a famosa “Declaração da Independência” daquele país. A China hoje produz 24.000 toneladas da planta e a França, por sua vez, produz 4.300 t. Em Portugal no século XIV, a fibra era usada para a confecção de velas e cabos para embarcações.
A polêmica histórica por trás da planta
A maconha tem uma história muito mais complicada do que o cânhamo, pois esta possui um teor de tetra-hidrocanabinol (THC), o componente psicotrópico da planta, muito mais elevado. Os especialistas dizem que o cânhamo é o primo sóbrio da maconha. Por conta disto, já no ano de 1937 foi proibida a posse e venda da maconha nos EUA e em 1938 o mesmo ocorreu no Brasil, com a proibição total do plantio e exploração da erva no país. Antes disto, durante o século XIX, o extrato da planta era normalmente vendido no mundo inteiro como analgésico, mas no século seguinte os farmacêuticos notavam que variações mínimas na concentração de substâncias da planta conduziam a efeitos “estranhos”.
Entretanto, recentemente a maconha parece estar de volta às atenções dos médicos devido à eficácia do canabidiol (CBD) – um dos alcaloides da planta – no tratamento de convulsões e crises epilépticas graves. Esta propriedade foi pesquisada e confirmada pelo pesquisador brasileiro Elisaldo Carlini, da Unifesp, em 1973.
Óleo canabidiol
Atualmente, a Anvisa permite sua importação para uso medicinal, reclassificando-a como substância controlada. A agência autoriza a produção e a venda de produtos contendo o alcaloide, porém ainda proíbe o plantio da erva para geração de insumos. Além disso, devido a pressão exercida por pais que descrevem de maneira emocionada a melhora de seus filhos com o uso da droga, o Conselho Federal de Medicina autorizou sua prescrição por parte de algumas especialidades médicas (psiquiatria, neurocirurgia e neurologia) para o caso de doenças como a epilepsia, em que observa-se que nos episódios mais graves, a resposta aos tratamentos usuais não tem demonstrado tanta eficácia.
A eficiência dos canabinóides no tratamento de doenças
Além do comprovado efeito anticonvulsivante da droga, que viabiliza seu uso em doenças como a citada epilepsia, pesquisadores da Universidade de Londres afirmam que tanto o THC quanto o CBD inibem o glioma, um tipo de câncer no cérebro. Desde 1990, vários estudos investigando a eficiência dos canabinóides no tratamento de câncer de mama, útero, pâncreas e fígado tem sido efetuados, embora ainda encontrem-se em fase de testes com animais. Nos EUA, dois produtos contendo o THC sintético são comercializados para combater a náusea e vômito causados pela quimioterapia.
Complementando a onda de boas notícias acerca do potencial farmacológico da Cannabis sativa, o município chileno de La Florida anunciou que fará a primeira colheita de maconha medicinal legal a ser usada para o alívio de sintomas do câncer, o que já é feito em países mais liberais no trato da droga. É bem possível que vencidos os preconceitos a maconha entre no rol das plantas de grande importância para a farmacopeia mundial, como é o caso do salgueiro-branco (Salix alba), em cuja casca foi descoberta a salicina, a base da aspirina, ou a quina (Cinchona sp), árvore dos Andes, na qual descobriu-se o quinino, o mais eficiente remédio contra a malária.
Pelo mundo afora, nota-se uma clara tendência à liberação do uso de alguns dos mais de 400 compostos da maconha. Nos EUA, no ano de 2013 o estado do Colorado aprovou o plantio e comercialização da planta e em 2014 várias lojas já ofereciam o produto para uso recreativo e medicinal. Logo depois outros 33 estados fizeram o mesmo. No Uruguai, mediante a aprovação da venda e produção da planta durante o governo Mujica, o país tornou-se o primeiro do mundo a descriminalizar seu uso.
No Brasil o comércio da maconha é crime, mas no Congresso há discussões sobre a legalização de seu uso medicinal e aos poucos, como observado ao longo deste artigo, a Anvisa tem liberado a importação e uso medicinal da mesma.
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Rodrigo
Um amigo me disse que é uma substância muito interessante pra ser usada antes do sexo.