
A Seringueira
A seringueira, a árvore da borracha, é uma planta de porte médio, chegando a 20 m de altura, que ocorre em toda a bacia amazônica, em diversos países. Os Maias já a conheciam, e a chamavam de árvore chorosa, e com a seiva dela faziam películas para proteger os pés e pequenas bolas compactas que usavam em um jogo cujo objetivo era lançá-las por um anel de pedra. Em sua segunda viagem à América, em 1495, Cristovão Colombo viu os indígenas brincando com bolas feitas com uma resina vegetal, a borracha, muito mais elásticas do que as então usadas na Europa, bexigas de animais cheias de ar.
Várias espécies de árvores produtoras de látex ocorrem na América Central, mas logo se descobriu que a maior produtora desta seiva era a Hevea brasiliensis, da bacia amazônica. As plantas adultas da espécie chegavam a produzir 1,3 kg de látex por ano, e um bom seringueiro podia produzir 11 kg de borracha defumada por dia, mas os exploradores, em pleno boom da borracha, preferiam derrubar a árvore e obter 45 kg da planta cortada. A espécie peruana Castilla quase foi extinta devido a esta prática predatória.
Na década de 1830, os EE UU desenvolveram várias aplicações para o material, como capas de chuva, mangueiras, galochas, chapéus, e o químico inglês Priestley descobriu o seu uso mais emblemático; apagar os riscos do lápis de grafite. Devido a problemas climáticos, pois a borracha derretia e cheirava mal no calor e se tornava quebradiça no inverno, a primeira onda do consumo do material logo arrefeceu.
A invenção acidental da borracha vulcanizada
Em 1839, o inventor americano Charles Goodyear, fazendo experiências com a borracha com a finalidade de superar os problemas causados pelo clima, misturou acidentalmente enxofre em pó a ela, e descobriu a vulcanização, que tornava a borracha resistente, elástica e estável sob qualquer clima.
Logo surgiram variações do material vulcanizado, dependendo do teor de enxofre adicionado; para elásticos, 1 a 3% de enxofre, 3 a 10% para pneus, e a ebonita, um material isolante e duro, usado em tomadas e cabos de talheres, 23 a 35%. Em 1888, o escocês John Dunlop patenteou o pneu para bicicletas, e logo depois o francês André Michelin desenvolveu pneus para carros e caminhões, o que detonou a segunda grande bolha de consumo da borracha.
Charles Goodyear Borracha vulcanizada
Enquanto isto, no Brasil, o inglês Henry Wickham deixava a Amazônia, em 1876, com 70.000 sementes da Hevea, encaminhadas ao Kew Gardens de Londres, que conseguiu fazer 1900 mudas, remetidas a países asiáticos tropicais, e as duas primeiras plantações da seringueira foram feitas na Malásia. Com trato esmerado, as plantas domesticadas começavam a produzir a partir dos 4 anos, e já em 1907 cerca de 10 milhões de árvores cobriam 1.200 km2 na Malásia e no Ceilão, atual Sri Lanka. A oferta de borracha cultivada logo superou a produção da floresta amazônica e por volta de 1932 98% da produção mundial vinha da Ásia.
A patente da borracha sintética
Durante a Primeira Guerra mundial, os alemães se viram privados, pelos aliados, de receber borracha natural da Ásia, e começaram a pesquisar a fabricação da sintética. A empresa alemã IG Farben teve sucesso e patenteou a borracha sintética logo depois, feita com os derivados de petróleo estireno e butadieno. Esta companhia vendeu a patente para a americana Standard Oil em 1929, e em 1945 os americanos já produziam 800.000 toneladas do material, destinadas ao esforço de guerra e, logo depois, aos milhares de automóveis que começavam a ser produzidos em massa no país.
Hoje o Brasil produz apenas 1,4 % da borracha no mundo, e o estado de São Paulo, com 14 milhões de hectares de seringuais, lidera a produção nacional. Em Governador Valadares (MG), algumas seringueiras podem ser vistas no viveiro do Instituto Estadual de Florestas, no KM 6 da Br 116. Lamentavelmente, nenhum paisagista pensou em plantar na cidade exemplares desta planta única, tão ligada à nossa cultura e a nossa história, preferindo plantar, ad nauseam, palmeiras imperiais venezuelanas como as vistas na Avenida Hugo Chávez, quer dizer, Avenida Juscelino Kubitschek.
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