Consciência Animal
Ciência

Consciência Animal

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A inteligência, entendida como a capacidade de seres vivos usarem o ambiente em seu benefício, tem sido detectada em vários animais, como o chimpanzé que usa gravetos para retirar cupins de tocos, o abutre que derruba ossos sobre pedras para quebrá-los e o peixe que lança jatos de água em insetos sobre a superfície para derrubá-los na água e come-los, são bons exemplos dela.

A consciência, no entanto, é bem mais complicada, e envolve funções bem mais complexas, como a atenção, a memória e a percepção, e os cientistas sempre a consideraram um privilégio humano. Ela estaria, segundo eles, alojada no neocórtex, a parte mais recente e desenvolvida do cérebro em homens, e no córtex. Nos seres humanos, o número de neurônios no córtex é muito maior do que em qualquer animal, e a teoria aceita era que a consciência seria ali gerada.

Pesquisas recentes na área neurológica, no entanto, revelam que a consciência seria gerada através de um processo integrado, envolvendo não apenas parte do cérebro, mas várias, algumas também presentes em animais.

Um estudo, realizado pela cientista Irene Pepperberg, de Harvard, revolucionou o conhecimento que se tinha sobre a consciência animal. A neurocientista citada começou a pesquisar o papagaio cinzento que tinha como animal de estimação, de origem africana, através de vários testes, como a capacidade de reconhecer cores e guardar palavras.

A cientista mostrou à ave uma banana e uma cereja, e depois mostrou-lhe uma maçã, e pediu para ela identificar a fruta, que foi pela ave chamada de banerry, a mistura dos nomes das frutas cherry, cereja, e banana. Baseada nas características de ambas as frutas, e vendo na maçã como portadora de características de ambas, a ave resumiu numa palavra o que, fisicamente, a maçã apresentava, a casca vermelha e o miolo branco. O teste revelou que a ave era capaz de reconhecer formas e cores, e relacionar uma com as outras, além de associar formas e cores a palavras, e a faculdade incrível de criar palavras.

A incrível habilidade do Baiacu japonês

Alguns outros seres, descobertos pelos cientistas recentemente, são capazes de criações surpreendentes, como o baiacu japonês que cria uma mandala perfeita no fundo do oceano, após uma semana de trabalho, removendo a areia com o movimento de suas barbatanas. Mandalas são diagramas compostos de figuras geométricas variáveis, concêntricas e simétricas, dispostas em torno de um centro, e servem à meditação, conforme religiões orientais. Lembram um vitral de igreja, redondo, colorido e disposto por vários segmentos de cores variadas.

A fêmea visita o local, inspeciona a obra do pretendente, que, uma vez aprovada, serve de local para a desova de seus ovos. O macho orgulhoso efetua então a fertilização deles com seu esperma no centro de sua obra, e fica ali ventilando os ovos e a fêmea segue seu caminho. Com alguns dias, o colossal trabalho de um peixinho de alguns centímetros desaparece, varrido por correntes marinhas. Se, como define o Aurélio, a arte é a expressão de sensações estéticas e agradáveis que suscitam no observador sentimentos similares, o baiacu é um artista, e a sensação da fêmea seria a de adolescentes carentes na frente de Justin Bieber.

A criativa técnica de sedução do Bower Bird

E o que dizer do bower-bird australiano, que constrói uma pequena choupana de gravetos no meio do mato, com cerca de 1 metro de largura e 40 cm de altura, sustentada por pilares de gravetos mais grossos, totalmente coberta com pequenos palitos de vegetação seca.

Pronta a estrutura básica, a ave, do porte de um sabiá, passa então à decoração do interior, feita com musgo seco cobrindo o chão e as laterais, e depois passa a dispor flores sempre da mesma cor na frente da casinha. Frutos são também coligidos, de diversas cores, e sementes secas também entram no repertório decorativo do pássaro, que transforma a entrada do seu exótico e belo ninho num atraente e surpreendente jardim. A fêmea se aproxima, examina tudo, e se ficar impressionada com os arranjos dispostos, cruza com o autor no interior da construção.

Como explicar este verdadeiro Roberto Burle-Marx das matas? Teriam os animais um senso artístico? O uirapuru e o acauã seriam os “Mozarts” da floresta? Será que os animais descobriram que, como dizia Fernando Pessoa, a arte é o reconhecimento de que a vida não basta, é preciso mais?

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