
Dia da Árvore
O Dia da árvore foi criado em 1872, nos Estados Unidos, por um cidadão de Nebraska, Julius Sterling Morton. Embora em outros países do hemisfério norte seja celebrado em Março, início da primavera, nos EEUU acontece em 23 de Setembro, para coincidir com o aniversário de seu idealizador. Neste ano, também foi criado o Parque Nacional de Yellowstone, o primeiro parque nacional do mundo.
Em poucos anos, a nova moda ambiental se propagou pelo mundo, sendo seguida por quase todos os países europeus. Nesta época, em 1876, no Brasil, o inglês Henry Wickham saia do país com 70.000 sementes da seringueira da Amazônia, que, levadas às colônias britânicas na Ásia, criaram as maiores plantações de látex do mundo. Pelo feito, ganhou o título de SIR e 700 libras, e o Brasil continuou a coleta artesanal que persiste até hoje.
A repercussão preservacionista no Brasil foi mínima naquela época
A onda preservacionista, no entanto, não teve ecos no Brasil, com a exceção de Alberto Loefgren, cientista sueco radicado no Brasil, que em 1901 propôs às autoridades paulistas a instituição de um dia no ano para que os estudantes brasileiros pudessem reverenciar as árvores, tendo por inspiração o Arbor Day americano. Em 1902 conseguiu uma homenagem pública às árvores em Araras, São Paulo, com um pugilo de cidadãos, cerimônia tida como o primeiro Dia da Árvore no país, oficialmente instituído só em 1965 com o nome de Festa Anual da Árvore.
Apresentou ao futuro presidente Rodrigues Alves propostas para uma legislação florestal e advertiu os administradores do estado sobre os efeitos devastadores das queimadas, e a destruição bárbara das matas da Cantareira. Suas preocupações, no entanto, caíram no vazio, e só em 1934 surgiu o primeiro código florestal brasileiro, mas por motivos não tão nobres.
Com as plantações de café tomando conta dos arredores das cidades, o governo da época promulgou o código com a finalidade de não deixar subir o preço da lenha, tirada em florestas cada vez mais raras e distantes. Ao contrário do que seria de se esperar, ele obrigava os proprietários de terras a manter 25% de suas áreas florestadas, mas permitia que toda a mata original fosse derrubada, desde que em seu lugar houvesse o plantio de plantas indicadas para a extração de lenha, exóticas ou não.
Desvalorização de espécies da flora nacional em nossos parques
Talvez estas origens expliquem a paixão que nossos administradores têm por espécies exóticas, que empestam parques e jardins públicos pelo Brasil afora. Árvores nativas monumentais como o Jequitibá, o Jacarandá e os Ipês são trocados por castanheiras africanas e palmeiras-imperiais colombianas. No Rio de Janeiro, 84% (!!!!) das espécies plantadas na cidade são estrangeiras, e o governo, pressionado pela opinião pública, começou um amplo programa de nacionalização.
Jequitibá Jacarandá Ipê amarelo
Na questão de Parques Nacionais, nossa situação consegue ser pior ainda. O orçamento do Instituto Chico Mendes, ICM-Bio, responsável pelo gerenciamento das 313 unidades de conservação federais, é de R$ 510 milhões. Em 2010, enquanto o governo federal gastava R$ 4 para cada hectare (ha) protegido, na Argentina eram R$ 21,37 e na Costa Rica R$ 32,30. Temos, em média, um funcionário para cada 150.000 ha, o Chile tem um para cada 27.000 e a Argentina um para cada 3.000. A situação parece ter piorado em 2014, unidades de conservação geridas pelo ICM-bio sofrem com a falta de pagamento do pessoal terceirizado, e calote em fornecedores.
Em vários estados o instituto não paga água e luz, e funcionários que fazem a vigilância e limpeza não recebem há meses. No Rio Grande do Sul, a Justiça condenou o ICM-Bio e o Ibama por não fiscalizarem o Parque Nacional de Lagoa do Peixe, e pediu providências para o controle de plantações de pinus, espécie exótica, dentro dos limites do Parque. Em Minas Gerais, o vexame intragável; a nascente do mitológico Rio São Francisco, no Parque Nacional da Serra da Canastra, secou, depois de uma série interminável de queimadas criminosas em que o culpado é sempre o fumante descuidado, mesmo que nenhum tenha passado por ali.
É preciso, no entanto, ter a fé de João Guimarães Rosa, que disse, em Grande Sertão: Veredas; “A vida é ingrata no macio de si; mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero. Ao que, este mundo é muito misturado…”.
Profundamente apaixonado pelo incessante bailado da vida nos sertões, ele também disse “Então, eu vi as cores do mundo… De manhã, o rio alto branco, de neblim; e o ouricuri retorce as palmas. Só um bom tocado de viola é que podia remir a vivez de tudo aquilo.”
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