Espécies Invasoras
Meio Ambiente

Espécies Invasoras

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Plantas invasoras são espécies vegetais que se reproduzem rápida e explosivamente, causando distúrbios ambientais como mudanças na composição do solo, disponibilidade de água, a frequência de queimadas e extinção da fauna local… Por não terem predadores no novo ambiente, mudam-no para prejuízo das espécies nativas, que, por falta de espaço, definham e muitas vezes são levadas à extinção. As invasoras do reino animal são amplamente conhecidas no brasil, como os pardais trazidos de Europa e que empestam a maioria das cidades brasileiras, onde hoje raramente se veem os tico-ticos, canarinhos da terra, e outros pássaros da fauna brasileira. Outro exemplo são os pombos urbanos, trazidos também da Europa e que atualmente constituem pragas urbanas combatidas em vários municípios brasileiros.

Invasoras vegetais também são conhecidas no Brasil, e algumas tomam o espaço das espécies nativas. Como exemplos, citam-se a Leucena, natural do México, que produz uma quantidade infinita de sementes, com alto índice de brotação, e a jaqueira indiana, que produz substâncias tóxicas em seu entorno evitando a brotação da flora nativa. A espécie Phragmites produz cerca de 200 caules por metro quadrado. A principal prejudicada é o bioma local, impedido de se desenvolver e manter a riqueza da flora e da fauna da região.

No médio Rio Doce, o maior invasor é o capim colonião, trazido da África, que tornou a região alvo das lamentáveis queimadas, que devastaram a fauna e a flora da área, a ponto de transformar a riquíssima Mata Atlântica original em uma paisagem lúgubre, estéril e desértica. Em certos lugares, após a queimada, florem os ipês amarelos, mostrando que a natureza amiúde usa sua beleza para se vingar.

Em Governador Valadares, funcionários da prefeitura travam uma batalha incessante com a Leucena, que empestou com suas sementes e brotos áreas de preservação na orla do Rio Doce. Após já terem passado a roçadeira por diversas vezes no local, as sementes continuam brotando e os brotos cortados continuam crescendo.

Além das invasoras, plantas exóticas introduzidas no Brasil por puro colonialismo cultural também ameaçam nossas riqueza vegetal, o que pode ser verificado nas praças e jardins de muitas cidades brasileiras. Em poucas o descaso com nossas árvores nativas se compara ao verificado em Governador Valadares. Palmeiras imperiais caribenhas no lugar de ipês, como se tamanho fosse mais bonito do que as cores exuberantes destas últimas. Dendês africanos ocupando o espaço de nossos gerivás, arecas malgaxes no lugar de jatobás, iúcas mexicanos no lugar das braúnas. Os jequitibás foram esquecidos, o açaí só é lembrado em restaurantes, os babaçus só estão nos livros da escola, que aparentemente não foram lidos pelos responsáveis por tanto desamor à nossa majestosa riqueza arbórea.

E o país dono da maior biodiversidade do mundo assiste impassível à  introdução desvairada de espécies sem nenhuma relação à nossa cultura, nossa geografia, nossa fauna. Temos no país cerca de 70.000 espécies arbóreas e arbustivas, mas recorremos sempre, de maneira canhestra, a espécies estrangeiras. Não é à toa que o símbolo da Receita Federal é o leão africano. A onça que se dane, é usada só para depreciar o próximo, como as expressões “bafo de onça” e “amigo da onça”. Não é preciso refletir muito para descobrir quem são os verdadeiros amigos da onça…

Outro exemplo gritante de colonialismo cultural em nossa cidade são as praças gramadas, que não são frequentadas por ninguém, pois ninguém quer se expor ao sol inclemente e queimar o traseiro nos bancos de cimento. Apesar de pesquisas mostrarem que em praças totalmente arborizadas, como a Serra Lima, a temperatura chega a ser até 10 graus abaixo do entorno, os paisagistas responsáveis acham que estamos em Nova Iorque onde, nas manhãs frias de países de clima temperado, a população procura os gramados para se aquecer. As campanhas do governo federal no sentido de alertar a população sobre os riscos da exposição solar, como o câncer de pele, são solenemente ignoradas.

Minas Gerais é o estado campeão em destruição da Mata Atlântica. Entre 2018 e 2019, o estado perdeu 4900 ha de Mata Atlântica, o equivalente a quase 6000 campos de futebol. As queimadas passaram de 10.827 entre janeiro e dezembro de 2018 para 17.213 no mesmo período de 2019. Dos municípios que mais desflorestaram, dois estão em Minas, Águas Vermelhas e Jequitinhonha.   

Espécies preciosas, algumas intimamente ligadas à história do estado e do país, como os ipês, jequitibás, a braúnas, buritis, babaçus, são vergonhosamente queimadas sem que ninguém se lembre de fazer um inventário delas, e reservar um espaço intocável para elas em nossos lugares públicos, como praças e jardins, e bosques de universidades. Acontece o contrário; a Universidade Federal de Diamantina, situada numa região que abriga uma flora exclusiva, rica e belíssima, escolheu plantar palmeiras imperiais caribenhas. A Universidade Federal de Viçosa, marco nacional nas ciências da terra, não mostra em seu campus quase nenhuma planta nacional.

E nem João Guimarães Rosa escapa. O autor de “Grande Sertão: Veredas”, um dos maiores romances já escritos, cita na obra a palmeira buriti 36 vezes. A prefeitura de Cordisburgo, sua cidade natal, no entanto, resolveu brindá-lo com sua inépcia e plantou várias palmeiras imperiais nas cercanias da casa onde nasceu o autor citado…

Espécies invasoras são grande problema para alguns países e para outros nem tanto assim

Os americanos, que são fervorosamente patriotas, gastam US $ 1 bilhão por ano extirpando plantas invasoras de seus parques e jardins. Grupos formados por guardas florestais, estudantes e voluntários, percorrem as áreas afetadas arrancando espécies invasoras, queimando as sementes e plantando nativas no espaço. Em Nova Iorque a prefeitura local ordenou a caçada a mais de 2000 gansos que ocupam, naquela cidade, lugares outrora frequentados pela fauna local. Na Espanha, algumas cidades lutam para abater os periquitos trazidos da Argentina que viraram praga por se reproduzirem de maneira descontrolada e ameaçar a já pequena fauna nativa. 

No Brasil, fazemos exatamente o contrário, gastamos o suado dinheiro de nossos impostos promovendo espécies estrangeiras e ajudando a jogar no esquecimento a majestade incomparável de nossa flora, e dando um péssimo exemplo a nossas crianças, que provavelmente não vão mais conhecer uma cotia, uma anta ou um tamanduá bandeira. Em Governador Valadares, a lagoa do Pérola, excelente lugar para as crianças verem biguás, garças e socós, virou um criadouro de patos de mercado, e na Lagoa do Sto Agostinho, alguém que não gosta da fauna brasileira soltou gansos e patos que ficariam melhor em algum criadouro de aves, e não numa acolhedora lagoa destinada à presença de patos irerês, frangos d‘àgua, mergulhões, aves que nossas crianças não conhecem mais. E isto no meio de um bando de pombos que sujam as calçadas, e a água, e são potenciais vetores de doenças graves. Não é à toa que são chamados de ratos de asas. 

E no futuro, nossos homens públicos e legisladores deste país vão ter que explicar à nação por que que, mesmo com 90 % da Mata Atlântica ter sido dizimada, nossas praças e jardins abrigam uma diarreia incontrolável de espécies estrangeiras, como palmeiras-imperiais, caryotas, palmeiras-triangulares, iúcas, agaves, et caterva.

Por que não vemos ali nossas árvores icônicas, como jequitibás, babaçus, açais, braúnas, jacarandás? Por que, por pura inépcia de órgãos públicos, o Brasil virou o lixão de espécies exóticas, e lobos guarás e tamanduás estão em extinção? Em Governador Valadares, com seu clima tropical, como é possível ver centenas de arbustos mixurucas como resedás asiáticas em nossas praças, e nelas não encontrarmos uma seringueira? Onde ficou a brasilidade, o bom gosto e a autocrítica dos responsáveis? Como é possível o código florestal brasileiro proteger bugigangas alienígenas da mesma forma que “protege” o pau-brasil?

Que cidadãos teremos de jovens que foram separados do que lhes deveria dar um imenso orgulho?

“Brasileiros são os Narcisos às avessas,
Cospem na própria imagem.”
Nelson Rodrigues

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Comentários (3)

  1. Rodrigo
    05/09/2020

    O capim colonião e o braquiária são as duas grandes doenças que dificultam demais a regeneração da mata atlântica. Excelente artigo!

  2. Vilma Jesus
    17/07/2020

    Muito bom!!!

  3. Tania Fernandes Vlcek
    08/07/2020

    Excelente !!!

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