O Cloro e você
Ciência

O Cloro e você

Compartilhar:

O cloro é um dos 92 elementos da natureza a partir do qual tudo que existe na Terra é formado. Como o hidrogênio, o hélio, o flúor, o oxigênio e outros, o cloro é um elemento gasoso, de cor esverdeada e tóxico quando aspirado em alta concentração. Sua importância, no entanto, no desenvolvimento de políticas de saúde pública que ajudaram a derrubar os imensos índices de mortalidade infantil, e mortalidade por doenças contagiosas no século 19 e que se mantém até hoje, é inegável, e ele é responsável pelo enorme salto dado na expectativa de vida das pessoas daquela época em diante.

No fim do século 19, os fabricantes de lentes Zeiss, na Alemanha, conseguiram fabricar microscópios de alta resolução, e com eles cientistas como Robert Koch conseguiram identificar na água a incrível quantidade de seres minúsculos que ali vivem, entre eles a bactéria responsável pela cólera. Por suas descobertas, Robert Koch ganhou o Nobel em 1905, e agradeceu aos fabricantes da Zeiss por suas descobertas. Além do prêmio, o  nome do cientista entrou para a história da medicina ao dar o nome ao bacilo causador da tuberculose. Em pesquisas posteriores, Koch conseguiu em laboratório fazer crescer diversas colônias de bactérias presentes na água, e determinar a partir de qual número elas seriam letais a humanos.

Outros cientistas procuraram resolver a contaminação com o combate químico aos micro-organismos, e entre eles despontou o médico John Leal. Ele tinha motivos pessoais para tentar uma solução, pois seu pai havia morrido durante a Guerra Civil americana ingerindo água contaminada por bactérias. Após tentar várias substâncias, o hipoclorito de cálcio, Ca(OCl)2 ou cloro, como era conhecido na época, chamou sua atenção por seus efeitos devastadores sobre micro-organismos, mesmo em baixa concentração, e era costumeiramente usado na desinfecção de ambientes assolados por epidemias de tifo ou cólera.

Como Leal já sabia que as bactérias estavam na água, e nenhuma substância então usada as atingia lá, resolveu tentar misturar o cloro diretamente na água. Na época, 1908, trabalhava na companhia que fornecia o líquido à cidade de Jersey City, e resolveu por sua conta e risco adicionar cloro através do hipoclorito no suprimento de água do lugar, mesmo sabendo das reações negativas do público à adição de produtos químicos à água com a finalidade de purificá-la. Logo depois, foi chamado a um tribunal para explicar suas ações, e, como já havia feito inúmeras experiências sobre o assunto, explicou ao juiz que não só tomaria aquela água, mas a daria a toda sua família. A cidade e outras que seguiram o exemplo tiveram uma queda brusca de casos de febre tifoide, e outras transmitidas pela água.

Pesquisas feitas logo depois recomendaram 0,2 a 0,5 ppm (parte por milhão) de cloro na água servida à população, mas teores de 2 ppm são aceitáveis sem risco à saúde das pessoas. A agência ambiental americana EPA tolera até 10 ppm. Uma pesquisa recente feita pela Universidade de Harvard verificou que a água tratada reduzia em 43% a mortalidade em uma cidade média americana, e, mais ainda, reduzia em 74% a mortalidade infantil no local. Logo depois do sucesso de Leal, começaram as vendas de água sanitária, que tem 2 a 2,5% de hipoclorito, e que, com 2 a 4 gotas por litro, pode ser usada para desinfetar qualquer água. 

Nem tudo são flores, no entanto, no relacionamento do cloro com a humanidade. Na Primeira Guerra Mundial, gases como o cloro concentrado, e outros gases venenosos com cloro na molécula, como o gás mostarda e o fosgênio foram usados como armas químicas. O cloro também entra na composição do DDT, temível inseticida muito popular na agricultura e saneamento básico por décadas, até se revelar um exterminador da fauna avícola de diversos países, o que trouxe a proibição de sua fabricação em todo mundo a partir da década de 1970.

Os efeitos devastadores desta substância sobre o ambiente foi descrito por Rachel Carson em seu livro famoso, “A Primavera Silenciosa”. O cloro também entrava na molécula dos gases chamados de refrigerantes, usados em geladeiras em todo o mundo a partir da década de 1930. Em 1974, no entanto, pesquisadores constataram os efeitos destrutivos destes gases, chamados de CFC’s, sobre a camada de ozônio, que paira de 15 a 30 km sobre a superfície da Terra, e que a protege da radiação ultravioleta do sol, e sua produção foi sustada em quase todos os países.

Estudos revelaram que cada átomo de cloro que chega à atmosfera superior destrói, em média, 100.000 moléculas de ozônio antes de ser desativada, e que a cada 1% de redução naquela camada, há um aumento de 2% na incidência de raios ultravioleta sobre a superfície do planeta. O cloro é um exemplo típico do refrão popular que diz que a dose faz a diferença entre o remédio e o veneno…

E você, o que achou deste artigo? Curta e comente abaixo.

Compartilhar:

Comentário (1)

  1. Rodrigo
    07/08/2020

    A dose e a indicação é oq qualifica qualquer composto químico em remédio ou veneno. Excelente artigo, Gilson!

Deixe seu comentário