Peixes, plantas e zumbis
Ciência

Peixes, plantas e zumbis

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Os baiacus, também conhecidos como sapos-do-mar, ou peixes-balão, têm a característica de inchar, aspirando ar, quando se sentem ameaçados. São motivo da ira dos pescadores, pois além da fama de venenosos, costumam cortar a linha do anzol que os fisga com seus poderosos dentes, similares aos de um roedor. No Japão, são conhecidos como fugu, e são usados para o preparo do sashimi. Este peixe, no entanto, possui um poderoso veneno nas gônadas, chamado de tetrodotoxina, uma das substâncias mais tóxicas conhecidas, que ataca o sistema nervoso central e causa a morte em humanos em algumas horas. No Japão, nos últimos 10 anos cerca de 646 pessoas foram envenenadas ingerindo o peixe, das quais 179 morreram. Naquele país, cursos são promovidos aos cozinheiros que se aventuram a usar o baiacu como alimento, com a finalidade de limpá-los apropriadamente.

No Brasil, em Outubro de 2014, 11 pessoas comeram o peixe em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, das quais 7 tiveram alta e 4 permanecem internadas em hospitais da região. O veneno tetrodotoxina, afetando diretamente o sistema nervoso da vítima, causa fala arrastada, tontura e dificuldade de andar. Em Cingapura, um homem ficou em coma por 36 horas após comer um baiacu. Durante o coma, ele não tinha reflexos cerebrais, indicando danos irreparáveis no cérebro, mas, no entanto, se recuperou em uma semana, sem sequelas.

A planta conhecida no Brasil como trombeteira, do gênero Datura, tem em suas sementes doses cavalares dos alcaloides escopolamina, atropina e hiosciamina, substâncias estas que, uma vez ingeridas por seres humanos, causam espasmos, delírios, alucinações, diminuição dos reflexos, vertigem e dilatação das pupilas. Jovens viciados em drogas preparam um chá da planta, a que chamam de chá do diabo, para curtir os efeitos, que, dependendo da dose ingerida, podem ser fatais. Um caso documentado ocorreu na ilha da Madeira, em 2006, onde 4 jovens se envenenaram com o preparo, sendo que um faleceu.

O ritual religioso de “zumbificação” no Haiti

Os zumbis são parte importante do trato cultural do Haiti, juntamente com o vodu. São considerados mortos-vivos, que vagam pelos campos aterrorizando a população com seu andar claudicante, olhos ensanguentados, fala desconexa, movimentos tremidos, boca entreaberta emitindo gemidos fantasmagóricos. Cientistas resolveram estudar in loco, no Haiti, a veracidade do mito, e conheceram os feiticeiros vodu responsáveis pelo pó de zumbi, que é esfregado no corpo do candidato ou ingerido sob forma de chá. Os efeitos não demoram, e a vítima logo apresenta o comportamento errático e assustador dos zumbis.

Entre vários ingredientes usados, a análise química revelou o uso da planta trombeteira e o baiacu, cujos efeitos no comportamento humano se assemelham aos constatados nos zumbis. Curiosamente, existe uma palmeira no Haiti, cujo gênero foi apropriadamente batizado de Zombia, que tem os caules revestidos por uma cerda vegetal muito resistente e durável. Quando as plantas morrem, os revestimentos fibrosos permanecem eretos, dando a ideia de palmeiras mortas-vivas espalhadas pelos campos do país.

Se o leitor for visitar o Haiti, não deve de maneira alguma aceitar convites para o chá das cinco…

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