
Teilhard de Chardin e a natureza
Pierre Teilhard de Chardin nasceu em 1881, na França. Tornou-se jesuíta aos 18 anos e, lecionando na Universidade de Paris, dedicou-se ao estudo da paleontologia, a ciência dos fósseis. Participou de diversas expedições científicas, mas seu interesse maior sempre foi o homem, suas origens e sua história. Após anos de pesquisas em paleontologia humana, tentou publicar sua obra prima, “O Fenômeno Humano” em 1948, em Roma. Na época, a cúpula da Igreja Católica não aceitava os conceitos evolucionistas de Charles Darwin, expostos em 1859 com o livro “A Origem das Espécies”, e a grande obra de Teilhard de Chardin só foi publicada em 1959, por uma editora americana, 4 anos após a morte do autor.
Para ele, a natureza é um grande templo, onde se realiza a grande evolução que se iniciou há cerca de 13 bilhões de anos atrás, com o Big Bang que deu início ao universo, e que se processa ininterruptamente através dos seguintes grandes estágios; a matéria inanimada evolui para a vida, há cerca de 3 bilhões de anos, e ela se propaga de forma explosiva sobre a terra, e hoje os cientistas já admitem a existência de mais de 30 milhões de espécies diferentes de seres vivos sobre o planeta.
O surgimento e evolução humana
Algo surpreendente então ocorre; o aparecimento dos primeiros hominídeos, há cerca de 4 milhões de anos, que evoluem aos ancestrais da nossa espécie, o Homo sapiens, há uns 200.000 anos, já com um cérebro quase igual aos nossos, e com 100 bilhões de neurônios nele, contra 6 bilhões dos gorilas. Pela primeira vez na história, surge a consciência, o poder de reflexão; não apenas o saber, mas saber que se sabe. Com isto, surge uma nova biologia cósmica; a emergência decisiva, na vida individual, de fatores de arranjos internos, como a invenção, a ciência, a vontade, acima de fatores de arranjos externos, como o instinto, o acaso, a possibilidade. O homem se descobre como dono de uma vontade de viver universal que nele converge, e cuja dinâmica é o progresso contínuo, a procura do pleno desenvolvimento de suas faculdades, a procura incessante do saber.
Este salto colossal, do inanimado ao espírito, à reflexão, à arte, era visto por Chardin como uma linha de enorme progresso, uma inegável evolução da humanidade num mundo onde a tecnologia se propaga e possibilita a um esquimó, por exemplo, conhecer em poucos dias toda a obra de Mozart, a alunos da escola conhecerem as teorias de Einstein, a indianos se deleitarem com Shakespeare.
O homem, pouco a pouco toma seu destino em suas mãos, e não se deixa mais levar pelo arbitrário. A liberdade passa a ser a capacidade de ser causa própria, e a vida, elevada a seu grau de reflexão e liberdade, não pode continuar sem o progresso contínuo, e o homem passa a ser a evolução que se tornou consciente de si mesma.
Qual seria o apogeu deste processo? Como será o homem daqui a centenas de anos? Uma mescla da inteligência de Einstein com a santidade de S. Francisco, com a coragem de Sócrates e a sabedoria de Espinosa? Seria certamente um ser mais próximo do universo que o cerca, mais em sintonia com os seus irmãos de aventura, mais aberto a mensagens que o cosmos mostra a cada instante, aquilo que Teilhard de Chardin chamava de felicidade do movimento e do crescimento.
Como disse Espinosa, a felicidade não é a consequência da virtude, ela é a própria virtude. Adorar a Deus, então, seria voltar-se de corpo e alma ao ato criador e sua evolução, associando-se a ele para concluir o mundo por meio do esforço, da coragem da pesquisa e da vontade. Deus, assim, se revela pela vontade (desejo autoconsciente) de cada um de nós de saber mais, de encontrar a verdade (a harmonia com o universo), e a beleza (a verdade percebida).
Que sentimento é melhor do que o expresso pela grande síntese de Chardin, de que, pelo esforço humano, o mais verdadeiro será encontrado, e o melhor sempre acaba acontecendo?
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